Operação no Jacarezinho deixa 25 mortos; ageiros são feridos no metrô
A Polícia Civil realiza hoje uma operação contra o tráfico que atua na comunidade do Jacarezinho, na zona norte do Rio. A ação deixou ao menos 25 mortos —um agente baleado na cabeça e outras 24 pessoas que, segundo a polícia, seriam suspeitas. A identidade delas contudo não foi divulgada.
Dois policiais foram feridos —na perna e de raspão no braço. Dois ageiros ficaram levemente feridos ao serem atingidos dentro de uma composição do metrô na região da estação Triagem. A operação policial mais letal da história do Rio ocorre após o STF (Supremo Tribunal Federal) restringir operações durante a pandemia e menos de uma semana da posse definitiva do governador Cláudio Castro (PSC) depois do impeachment de Wilson Witzel (PSC).
Segundo a decisão do STF, a polícia é obrigada a comunicar a realização da operação ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), justificar a ação e enviar um relatório com o resultado.
O UOL procurou a Promotoria, que informou ter sido comunicada às 9h, após o início da ação, para o cumprimento de mandados judiciais. "A Polícia Civil apontou a extrema violência imposta pela organização criminosa como elemento ensejador da urgência e excepcionalidade para realização da operação", explicou o MP-RJ por meio de nota.
O órgão disse ainda que vai abrir uma investigação independente. E informou ter recebido denúncias de abusos, que serão investigadas.
Diante dos relatos de moradores sobre execuções e outras violações durante a operação policial, representantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, da Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) e o ouvidor da Defensoria Pública do Estado, Guilherme Pimentel, estão na comunidade para averiguar as denúncias.
O policial civil morto na operação é André Leonardo de Mello Frias, que atuava na Dcod (Delegacia de Combate às Drogas).
A concessionária do Metrô informou que um ageiro foi baleado de raspão no braço e outro foi atingido por estilhaços de vidro.
Os feridos foram identificados como Humberto Duarte, 20, levado para o Souza Aguiar, e Raphael Silva, 33, socorrido no Hospital Salgado Filho. Segundo as unidades, Duarte tem estado de saúde estável, enquanto Silva saiu da unidade mesmo sem alta médica.
Atiradores em helicóptero e desespero de moradores
A investigação teve início a partir de informações readas à DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente) de que traficantes vêm aliciando crianças e adolescentes para integrar a facção que domina o território, o CV (Comando Vermelho).
Esses criminosos exploram práticas como o tráfico de drogas, roubo de cargas, roubos a transeuntes, homicídios e até sequestros de trens da Supervia.
A Operação Exceptis foi deflagrada a partir de denúncias de que criminosos estão expulsando moradores de suas casas. O grupo seria responsável também pelo assassinato de moradores e pelo sumiço dos corpos.
Vinte e um criminosos foram identificados como os "responsáveis por garantir o domínio territorial da região com utilização de armas de fogo", informou a Polícia Civil.
Imagens da operação mostraram ao menos dois atiradores armados com fuzis em um helicóptero da Polícia Civil. O uso de aeronaves como plataforma de tiro é criticado por especialistas e um dos pontos questionados na ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635, na qual a alta letalidade policial no Rio de Janeiro é debatida.
Durante a ação, a TV Globo mostrou criminosos pulando de laje em laje e invadindo casas de moradores para tentar fugir da polícia.
Uma moradora da comunidade, que não terá o nome divulgado por motivo de segurança, disse que o clima ainda é tenso na comunidade:
São muitos policiais entrando aqui no Jacarezinho. São muitos. É desesperador. São grupos com mais de dez espalhados. Tem blindado, tem helicóptero, teve tiro, teve bomba. Ninguém consegue sair para trabalhar. Dá muito medo
Moradora do Jacarezinho
A região do Jacarezinho é considerada um dos quartéis-generais do CV (Comando Vermelho).
"Em razão da dificuldade de se operar no terreno, por conta das barricadas e das táticas de guerrilha realizadas pelos marginais, o local abriga uma quantidade relevante de armamentos, que seriam utilizados nas retomadas de territórios perdidos para facções rivais ou para se reforçar de possíveis investidas policiais", afirmou a polícia, em nota.
Devido ao confronto na região, o metrô interrompeu a circulação do transporte na região. Às 7h40 as viagens estavam regularizadas. Já a SuperVia, concessionária responsável pelos trens, informou que suspendeu a circulação entre as estações Central do Brasil e Belford Roxo e também para Gramacho.
Uma dentista que trabalha na zona norte do Rio e a todos os dias pela estação de trem de Triagem contou que não foi trabalhar com medo de ar na região.
"Eu o por lá todos os dias. Hoje de manhã, quando vi o que estava acontecendo, fiquei com muito medo e desmarquei todos os meus pacientes. Fiquei assustada e optei por me preservar, pois naquelas condições qualquer um está correndo risco", disse a dentista, que não quis se identificar.
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