Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ao desrespeitar Nossa Senhora, Bolsonaro inverte princípios cristãos

Nenhum presidenciável jamais usou tanto a religião em uma campanha eleitoral quanto Jair Bolsonaro (PL). Desde 2018, Deus tem sido assunto frequente em seus discursos e na atual campanha eleitoral ele repete a todo momento que defende os valores da fé cristã. Frequenta cultos evangélicos com assiduidade, está sempre em companhia dos pastores e bispos neopentecostais de maior destaque, apesar de ter sempre se identificado como católico.
A imagem de religiosidade construída desde que colocou em prática o plano de ocupar a Presidência da República não combina, porém, com o Bolsonaro real. Suas ações e declarações vão na contramão de um seguidor do ramo mais conservador do Cristianismo, como ele quer se mostrar.
Vocifera contra o aborto legal, mas cogitou abortar o filho 04, Jair Renan.
Contraria os princípios cristãos de busca pela paz ao pregar e facilitar o uso de armas.
Durante a pandemia que matou quase 700 mil brasileiros, não emitiu nenhum sinal pessoal de compaixão, sentimento tão valioso ao Cristianismo - pelo contrário, desdenhou das vítimas, dizendo que não era coveiro e que aqueles que tentavam se proteger eram maricas.
Não se mostra preocupado com os mais pobres, aqueles aos quais Jesus dedicou a vida, e chega a negar que haja fome no Brasil.
Se apresenta como conservador e defensor da família, mas para justificar o recebimento de auxílio-moradia apesar de ter residência em Brasília não teve pudor de itir que usava o imóvel para "comer gente".
Há muitos outros sinais, mas essa contradição entre o personagem religioso e o Bolsonaro real ficou mais clara ontem, na visita que o presidenciável fez à Basílica de Nossa Senhora Aparecida.
Não satisfeito com o alto nível de instrumentalização da religião em sua campanha, Bolsonaro foi à Basílica no dia da padroeira do Brasil pedir votos e participar da mobilização de eleitores.
Em nenhum momento exibiu a compostura esperada de alguém que participa de uma cerimônia religiosa. Acenou aos seguidores, encenou a participação na missa e recusou-se a receber a hóstia.
Inspirada no comportamento do líder, a trupe bolsonarista também quebrou todas as regras religiosas: levou para Aparecida, local dedicado à espiritualidade, o mesmo clima de ódio que dissemina país afora.
Vaiaram o arcebispo quando ele pediu que nenhuma criança brasileira e fome, atacaram um funcionário da afiliada da TV Globo, assediaram um rapaz somente porque estava vestido de vermelho, abusaram dos palavrões. Muitos destes "patriotas" e "cristãos" estavam com latas de cerveja na mão em uma área de celebração religiosa.
Bolsonaro e os bolsonaristas desprezam, assim, os principais valores do Cristianismo.
Esses preceitos foram resumidos na famosa oração atribuída a São Francisco. No Brasil de hoje, a seita bolsonarista parece fazer uma releitura dessa prece.
Pelo comportamento da turba e do candidato, essa inversão de valores pode ser resumida assim:
Onde houver amor, que eu leve o ódio.
Onde houver perdão, que eu leve a ofensa.
Onde houver união, que eu leve a discórdia.
Onde houver fé, que eu leve a dúvida.
Onde houver verdade, que eu leve a mentira.
Onde houver esperança, que eu leve o desespero.
Onde houver alegria, que eu leve a tristeza.
Onde houver luz, que eu leve as trevas.
Resta saber se eleitor dirá "Amém" a essa proposta de barbárie.
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