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'Estávamos com medo da radicalização', diz viúva do petista morto no Paraná
A policial civil Pâmela Suellen Silva, de 38 anos, estava bem próxima ao marido, o guarda municipal Marcelo Arruda, quando um homem desconhecido chegou atirando no local onde comemoravam um aniversário. Arruda completava ontem 50 anos e a festa teve como tema as cores e símbolos do partido do qual faz parte, o PT. O visitante indesejado - identificado depois como o agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho - parecia inconformado com a opção ideológica do aniversariante e poucos minutos antes tinha feito ameaças de arma na mão, gritando "Bolsonaro!", "Mito!" e "Morte aos petistas!".
Na segunda vez que foi ao local, Guaranho já chegou disparando, segundo contou Pâmela à coluna, e acertou dois tiros em Arruda — na perna e no abdômen. Ela, então, empurrou o atirador e Arruda conseguiu revidar. Guaranho foi baleado, mas sobreviveu. Está internado em estado grave.
"Achava que tinha o direito de fazer uma festa com o tema que a gente quisesse. Mas a gente não tem", disse a policial, que se define como uma pessoa de esquerda. "Eu estou aprendendo isso com a pior dor da minha vida".
Pâmela é mãe de dois dos quatro filhos de Arruda - um de 40 dias e outro de seis anos - e o casal estava morando junto há apenas seis meses. A seguir, o relato da viúva de Marcelo Arruda à coluna.
"Ontem nós estávamos comemorando, o Marcelo estava completando cinquenta anos. Ele é do Partido dos Trabalhadores de Foz do Iguaçu, nós estávamos em uma associação de servidores, fizemos uma decoração do PT.
A festa já estava acabando, a gente já tinha cantado parabéns, estava tudo bem, tudo tranquilo, tinha só um pouco de convidados na festa. Alguns dos convidados, inclusive, eram simpatizantes do Bolsonaro. Nós temos amigos que têm opiniões diferentes e nem por isso a gente saiu dando tiro um no outro, se matando.
Por volta das 23h, desceu um carro branco, o estacionamento é bem próximo ao local da festa e do salão. A gente até pensou que era um dos convidados. Ele manobrou, de repente abriu o vidro e começou a falar 'Bolsonaro', 'Mito!', 'Morram os petistas!'. Era alguém que a gente nunca viu.
O Marcelo, que estava mais próximo, foi conversar com ele para pedir que parasse, que aquela era uma festa particular, que ele se retirasse. Aí ele sacou da arma e mirou no Marcelo. Nesse momento eu entrei na situação e me identifiquei como policial, mas não adiantou muito. Aí a mulher dele, que estava dentro do carro com o filho, pediu pelo amor de Deus que parasse.
Nem eu e nem o Marcelo estávamos armados naquele momento. Ele falou que ia voltar.
Quando o homem saiu, Marcelo foi até o carro e pegou a arma, dizendo que tinha que se prevenir. Dez minutos depois o homem voltou, saiu do carro com a arma em punho e começou a atirar.
Atirava a esmo na direção das pessoas, foi quando Marcelo sacou da arma e revidou. Houve a troca de tiros, ele acertou a perna do Marcelo e depois o abdômen. Marcelo conseguiu acertar ele também com cinco tiros.
A gente não tem a nenhuma ideia de onde surgiu esse cara.
Marcelo fez campanha para vice-prefeito, nunca me contou sobre ter sofrido ameaças. As discussões mais quentes que ele tinha sobre política eram nas redes sociais.
Nós estávamos com medo dessa radicalização. Fazia algum tempo que a gente vinha conversando sobre não se expor muito, pelo medo da agressão. Eu observo que a gente que tem uma ideologia de esquerda, quando está em público, dependendo do local, não pode se expor muito.
Só que dessa vez a nossa opção político-partidária estava representada numa decoração de festa, porque a gente decorou com algumas coisas do PT.
Achava que tinha o direito de fazer uma festa com o tema que a gente quisesse. Mas a gente não tem. Eu aprendi isso com a pior dor da minha vida.
Democracia zero.
Esse homem acabou com a minha vida, acabou com a minha família, não sei se por ignorância, retardamento. Não sei o que a na cabeça de uma pessoa dessas. Tem uma ideologia de ódio que tem que parar de ser estimulada, o uso de armas também".
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